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O Simpósio almeja debater a dinâmica social, política e econômica da monarquia pluricontinental portuguesa. Prioriza os séculos XVI ao XVIII e parte do suposto de que a organização da monarquia lusa da época foi informada por concepções de monarquia (universus) e de autogoverno das comunidades (república), impactadas pela escravidão atlântica. Em outras palavras, pretende-se analisar a atuação das câmaras municipais (abastecimento, ordenanças, justiça ordinária, etc.), de governos capitaniais e as hierarquias sociais subjacentes a elas e à escravidão. Da mesma forma, o simpósio discutirá a conexão de tais repúblicas com os poderes do centro (Coroa, Igreja, casas aristocráticas, etc.), as redes comerciais, políticas e sociais na gestão da monarquia pluricontinental. Assim, para além da constatação hoje sólida de que, ao lado do príncipe e dos conselhos palacianos do reino, os poderes locais também atuavam na gestão da monarquia, o simpósio agrega a dimensão escravista, inclusive indígena, isto é, o governo doméstico dos escravos e demais dependentes da casa. Pelo menos desde a década de 1970, trabalhos questionaram o “esquematismo excessivo” na história da América portuguesa, que a reduzia a senhores e escravos e a conquista seria um simples corolário da expansão mercantil europeia. Até fins dos anos de 1980, tal questionamento concentrou-se no estudo das estruturas internas da sociedade da América portuguesa. Tratava-se não de negar a transferência de excedentes, mas não reduzir tudo a ele. Focados, sobretudo, no estudo da sociedade escravista da América portuguesa, demonstrava-se a existência de sua grande autonomia perante conjunturas europeias. Buscava-se ampliar o escopo de análise para além da relação centro-periferia, incorporando também África e Ásia nessa monarquia multiconectada. Nos anos 1990, esse esforço encontrou uma notável correspondência na historiografia internacional, em especial, na renovação de estudos sobre Impérios ultramarinos e Estados modernos. Em meio a este debate, a monarquia surge como cabeça da sociedade, mas sem se confundir com ela. A partir deste momento, no caso português, a ideia de um império ultramarino hierarquizado e rígido é substituída por uma de monarquia pluricontinetal caracterizada pela presença de um poder central fraco demais para impor-se pela coerção, mas forte o suficiente para negociar seus interesses com os múltiplos poderes existentes no reino e nas conquistas. Atualmente, a questão que tem mais dinamizado o debate historiográfico é o estudo das especificidades e diferenças que marcaram as diversas áreas ultramarinas que compunham a vasta monarquia portuguesa, ou melhor, o Reino e suas repúblicas, entre os séculos XVI e o XVIII, suas formas de comunicação política em instâncias e canais variados. Para melhor analisar todas essas questões, incluindo as de método, o simpósio temático proposto visa discutir o governo das gentes na monarquia pluricontinetal: câmaras municipais, oficiais régios (letrados e militares), Igreja, casas aristocráticas e governo senhorial escravista no processo decisório da monarquia pluricontinental portuguesa, desde o Oriente à América portuguesa, passando pelo Reino e pela África.
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