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A historiografia sobre o tráfico de escravos no contexto do Império Português dos últimos 30 anos enfatizou as relações econômicas e culturais que uniram o Brasil às zonas de resgate de escravos na Costa da África. Mercadorias produzidas na América Portuguesa, equipagens de navios recrutadas em uma e outra costa do Atlântico Sul e os trabalhadores importados desde a África, selaram laços intensos e duradouros que estiveram na base do processo de colonização e da própria formação do Brasil. Não obstante, o fornecimento de mercadorias, as redes de financiamento e os mecanismos do comércio de escravos extravasaram o eixo Brasil-África, o Atlântico e o próprio Império Português, influenciando, ainda que algumas vezes de maneira marginal, economias e sociedades nos quatro cantos do mundo. Explorando as relações globais engendradas pelo tráfico de escravos no Império Português, a mesa redonda pretende desenvolver-se em torno de quatro temas. No primeiro, será abordada a relação entre o tráfico de escravos e comércio Anglo/Português de ouro, integrando a América Portuguesa nos circuitos do Atlântico Norte e na história global do capitalismo. No segundo, será discutido o papel dos têxteis, tanto do Índico como do Norte da Europa, no comércio angolano, problematizando a produção e exportação de têxteis para o mercado atlântico no desenvolvimento do Ocidente. No terceiro, será analisado o comércio de cauris no Golfo do Benim, enfatizando as estratégias dos comerciantes negreiros luso-brasileiros para a aquisição dos búzios no Índico, demonstrando o caráter transoceânico do tráfico. No quarto, serão debatidas as relações entre os negreiros portugueses em Angola com os traficantes franceses e a sua influência sobre os padrões de exportação de cativos na África Centro-Ocidental, abordando a concorrência e a rivalidade entre os mercadores, mas também o contrabando e a cooperação. Deste modo, pretendemos contribuir para uma reavaliação sobre o papel do tráfico de escravos na economia global, considerando as circunstâncias econômicas locais e o engajamento de diferentes grupos sociais nas atividades encadeadas pelo comércio de pessoas.
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