top of page

A historiografia reconhece que o comércio foi um vetor central – ainda que não o único e talvez nem mesmo o principal – no desenvolvimento econômico da colônia. A despeito de suas diferenças, tendências historiográficas que enfatizam a exploração colonial por parte dos atores metropolitanos ou mesmo a mais recente historiografia que advoga a “negociação e o conflito” como elementos essenciais para se entender as relações entre as duas pontas do Atlântico, concordam que a atividade mercantil teve grande impacto em outros setores da economia e implicações profundas nas esferas sociais e políticas. No entanto, pouco se estudou como se tornava o comércio viável e lucrativo. O simpósio pretende explorar como crenças, valores, regras e organizações – privadas e públicas, centrais e locais –, sustentaram a manutenção e a expansão do comércio colonial. Mais especificamente, discutiremos: de que maneira os órgãos metropolitanos e centrais que regulamentavam o comércio, como Mesas de Inspeção, Junta do Comércio, Secretárias, Provedorias, C.U., Câmaras, Almoxarifados, Almotaçarias etc. impactavam tanto na forma em que a mercancia se organizava como nos seus custos? Que impacto tiveram as políticas de fomento ao comércio pela Coroa, pelo Governo Geral (Vice-Reinado), pelos governos das capitanias e pelas câmaras?O funcionamento do comércio também fará parte do escopo do Simpósio. Nesse sentido, importa saber como funcionavam as Companhias de Comércio (monopolistas ou não) e como elas afetavam os atores que não eram acionistas ou funcionários? Como os mercadores privados e outros atores ligados à mercancia reduziam (ou se aumentava) os custos com o transporte marítimo e terrestre, a tributação e o armazenamento?  Que impacto tinham e como eram contornados os custos com alfândegas e tributação? Como se dava a arrematação dos impostos e o ato das cobranças? Como os mercadores lidavam com o corso, a pirataria e a Inquisição? Da mesma forma, como se garantia o cumprimento dos contratos, o acesso a informação segurança e os direitos de propriedade? Que papel tinham nisso as redes comerciais, as praças mercantis, os contratos e os cartórios? Qual era a influência dos tribunais, da Mesa do Bem Comum, da Junta de Comércio e do litígio mercantil? A que lógicas obedeciam a correspondência e a contabilidade comercial?  Por fim, pretendemos explorar os aspectos socioculturais que estavam direta ou indiretamente relacionados à atividade mercantil. Por exemplo, de que maneira a mercancia e a riqueza podiam se refletir no estatuto social e em que media isso era impedido pela ética, pela moral e pela mentalidade? Quais os impactos dos estatutos de pureza de sangue e dos outros critérios para ingresso nas Ordens Militares e familiaturas do Santo Ofício?

 

Bibliografia:

BÖTTCHER Nikolaus; HAUSBERGER Bernd; IBARRA Antonio. Redes y negócios globales em el mundo ibérico, siglos XVI-XVIII. Madrid/Frankfurt and Main: Iberoamericana/Verveurt/El Colegio de México, 2010

COSTA Leonor Freire , Maria Manuela Rocha e Rita Martins de Sousa. O Ouro do Brasil. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da moeda, 2013

CURTO Diogo Ramada e Anthony Molho (ed.). Commercial Networks in the Early Modern World. European University Institute working papers, History Department, N. 2002

PESAVENTO, Fábio. Um pouco antes da corte: A economia do Rio de Janeiro na segunda metade do setecentos. Jundiaí: Paco Editorial, 2013

GIL , Tiago Luis. “Redes e camadas de relacionamentos  na economia:  metodologias para o estudo da confiança  mercantil  na América  portuguesa  do Antigo Regime”, Revista de Indias, V. LXXV, N. 264, 2015, p.  421-456

GREIF, Avner (2000): “The fundamental problem of exchange: a research agenda in Historical Institutional Analysis.” European Review of Economic History, 4, 251-284

GREIF, Avner. Institutions and the path to the modern economy lessons from medieval trade. New York: Cambridge University Press, 2010.

GRANOVETTER, Mark. Problems of explanation in economic sociology. In: NOHRIA, Nitin & ECCLES, Robert G. (eds.). Networks and organizations. Boston: Harvard Business School Press, 1992, pp. 25­ 56.

GONZALEZ DE LARA, Yadira (2008): “The Secret of Venetian Success: A Public-order, reputation-based Institution.” European Review of Economic History, 12.3: 247-285

NASH, R. C., “The Organisation of Trade and Finance in the British Atlantic Economy, 1600-1830”, Peter Coclanis (org.) The Atlantic Economy during the Seventeenth and Eighteenth Centuries. Organization, Operation, Practices and Personnel (Columbia: University South Caroline, 2005), pp. 95-112

ROTHSCHILD, Emma. “Isolation and economic life in Eighteenth-century France”. American Historical Review, 119, 4 (2014): 1055-1082

ROY, Tirthankar y Anand Swamy. Law and the Economy in colonial  India. Chicago: Chicago UniversityPress, 2016

TRIVELLATO, Francesca. The Familiarity of Strangers: The Sephardic Diaspora, Livorno, and Cross-Cultural Trade in the Early Modern Period. New Haven: Yale University Press, 2009

WILLIAMSON, Oliver. The Economic Institutions of Capitalism. New York: Free Press, 1985

ZAHADIEH Nuala.Regulation, Rent-seeking, and the Glorious Revolution in the English Atlantic Economy. Economic History Review, 63-4, 865-890, 2010

bottom of page