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Este Simpósio tem como objetivo debater e evidenciar estudos sobre as relações entre instrução, cultura escrita e as práticas culturais e educativas. Ao mesmo tempo, pretende discutir a presença dessas relações nas diferentes instituições enquanto mediadoras de sociabilidades e poder na América Colonial, desde os fins do século XVII até os processos de independência.
No período histórico focalizado, os processos educativos não eram exclusivos das instituições escolares e tinham dinamismo e visibilidade fora delas. Tal fato está relacionado a uma tradição intelectual e político-administrativa que concebia a educação como um conjunto de ações voltadas para a formação do súdito cristão e que poderia ser encontrado em diferentes dimensões da vida social. Partindo desse entendimento, este Simpósio considera os eventos que poderiam ser revestidos de uma intenção educativa extensiva às práticas desenvolvidas por outras instituições e em outros espaços que não apenas o escolar. A abrangência da concepção educacional justifica esta proposição, na medida em que os debates desenvolvidos podem ajudar a perceber a ampla dimensão dos eventos de ensino e aprendizagem e, ao mesmo tempo, compreender o que significava educar o indivíduo para torná-lo útil à Coroa, à Igreja e à sociedade. Assim, no presente Simpósio, busca-se perceber e discutir as relações entre instrução e educação nas dinâmicas administrativas, civis e eclesiásticas, bem como as ligações existentes entre atividades econômicas, formação profissional e projetos educacionais desenvolvidos em Portugal ou Espanha e que alcançaram seus domínios ultramarinos, particularmente a América. Ademais, em função do recorte temporal adotado, interessam temas que abordem o estudo das instituições e de seus componentes e as relações entre a cultura escrita e a Ilustração. Nesse sentido, importa conhecer a produção discursiva dos inúmeros agentes envolvidos nos diferentes processos administrativos e educacionais atinentes ao mundo da escrita, antes e depois das reformas pombalinas do ensino. Mais precisamente, visa-se conhecer: os letrados e sua formação universitária; os serventuários públicos e privados; as livrarias e o comércio de livros; os discursos oficiais, construídos institucionalmente acerca da instrução; e as ações resistentes, dos excluídos ou marginalizados expressas por meio de escritas de si ou em depoimentos de oitiva para escrivães, copiadores ou outros agentes. Enfim, o simpósio abrange as formas e os mecanismos de instrução e educação na sua ampla acepção e na extensa dinâmica das suas práticas.
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