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Nos últimos anos, a chamada “nova história militar” atraiu uma série de historiadores envolvidos com o estudo das Instituições militares e as relações dos homens de armas nos espaços político, econômico e cultural no Brasil Seiscentista e, especialmente, do Setecentos.Pesquisas recentes mostram-nos múltiplas possibilidades de se conhecer não apenas a regulamentação régia e sua estrutura militar defensora do Império português na América, mas também as estratégias de afirmação social de seus ocupantes por meio da criação de valores, de distinções, de formas de prestígio em uma sociedade estamental típica do Antigo Regime.As tropas militares garantiam o controle e a disciplina na América portuguesa e eram encarregadas pela sua defesa e administração. Mas ao tempo em que os militares representavam simbolicamente uma ordem social, centralizadora, a qual se desejava construir para a manutenção do Império português, ela acabou se dissipando e ganhando novos significados de acordo com as realidades locais do Brasil. O caráter social nivelador daqueles que ocupavam postos militares nas tropas criaram possibilidades de mobilidade social em uma sociedade escravista e atraíram homens livres pobres, forros, pardos e nativos aldeados. E aqueles que já mantinham espaços de poder nas localidades por serem principais da terra, mesmo sem experiência nas armas, ocuparam altos cargos militares, recebendo honras e mercês e tornando-se intermediários com os poderes centrais.No intuito de congregarmos estudos que envolvam a complexa dinâmica militar nas suas diversas facetas étnico-raciais, sociais e políticas e a fragilidade de sua estrutura organicista nos mais diversos recantos do Império português na América, pretendemos agenciar um profícuo diálogo com pesquisadores atentos ao variado uso de fontes sobre o tema e suas perspectivas de pesquisa.Acreditamos numa troca de saberes capaz de perceber, temporal e espacialmente, a diversidade da existência, composição, significado e uso de tropas militares no Brasil colonial. Interessa-nos o diálogo com estudos que alarguem o conceito de “disciplina militar”; que analisem a relação de um Império e o seu corpo militar envolvido em “estruturas granulares” e “contínuas”, mantidas por diretrizes régias e, ao mesmo instante, os interesses pessoais. As abordagens pluridimensionais trazidas para este Simpósio Temático sobre as milícias nos permitirão discutir as redes de cumplicidades – locais, supralocais ou Atlântica – em suas variadas escalas, que funcionaram para a própria arquitetura de poder no Brasil colonial.

Bibliografia:

CASTRO, Celso; IZECKSOHN, Vitor; KRAAY, Hendrik (Orgs.). Nova História Militar Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

COSTA, Ana Paula Pereira. Corpos de Ordenanças e chefias militares em Minas Colonial: Vila Rica (1735-1777). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014.

GOMES, José Eudes. As milícias d’El Rey. Tropas militares e poder no Ceará setecentista. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

MELLO, Christiane Figueiredo Pagano de. Forças militares no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: E-papers, 2009.

POSSAMAI, Paulo. Conquistar e defender: Portugal, Países Baixos e Brasil. Estudos de História Militar na Idade Moderna. São Leopoldo: Oikos, 2012.

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