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Objetivos:

 

 O curso visa discutir a atuação dos jesuítas e do clero secular junto às populações indígenas no período colonial indicando o estado da arte e as principais questões historiográficas, fontes e referências disponíveis para os que queiram desenvolver pesquisas a respeito do tema. Pretende-se analisar em termos comparativos a ação do clero junto aos índios tendo em vista os períodos pré- e pós-expulsão dos jesuítas. O curso pretende também discutir o conceito de catequese e as relações entre religião e colonização, tendo em vista o regime de Padroado, que propiciava a associação da Igreja (poder espiritual) à Coroa (poder temporal).


Justificativa:

 

Tem sido lugar comum na historiografia colonial o destaque dado à Companhia de Jesus e aos jesuítas no processo de catequese e missionação dos povos indígenas. Já no século XIX, historiadores como Francisco Adolpho de Varnhagen e Capistrano de Abreu enfatizaram a proeminência dos jesuítas neste campo. Este último chegou ao ponto de afirmar que não se poderia escrever a História do Brasil sem que antes se escrevesse a dos jesuítas. Este destaque atribuído aos jesuítas não é, de modo algum, imerecido. Eles foram os primeiros religiosos que se dedicaram de modo sistemático a catequizar os povos indígenas do território que viria a ser o Brasil atendendo a uma política oficial da coroa lusitana, ao nomear e enviar para a América o primeiro governador geral e todo um aparato administrativo do qual a recém-criada Companhia de Jesus fazia parte. Eles também foram os religiosos que se dedicaram à catequese por mais tempo, sem interrupção, desde sua chegada, em 1549, até sua expulsão, em 1759, decretada pelo monarca D. José (1750-1777). Ao longo daquele período os jesuítas foram os religiosos que tiveram sob sua “administração” o maior número de “aldeias”, seguidos pelos franciscanos e capuchinhos. A despeito deste destaque, no entanto, o clero secular também se fez presente no Brasil desde o início da colonização, mesmo que sua atuação seja menos enfatizada pela historiografia. Após 1551, com a criação do Bispado de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, a Igreja secular se organizou hierarquicamente na colônia, passando a atuar de modo mais sistemático na conservação e expansão do cristianismo luso-brasileiro, ou seja, da cristandade colonial. Nota-se que o clero secular em algumas regiões manteve uma atuação discreta junto às populações indígenas no cenário anterior à carta régia de 8 de maio de 1758, que determinou a transformação dos aldeamentos jesuítas em vilas e a conversão das missões em paróquias (processo de secularização), levando à indicação de párocos seculares para as novas freguesias (antigas missões). Não obstante, mostra-se evidente que a igreja secular não ficou indiferente à questão indígena e que tanto párocos quanto jesuítas atuaram na catequese e na missionação dos povos indígenas e no enquadramento religioso da sociedade colonial como um todo.


Plano de curso:


 Sessão 1 – Terra de Missão


1. O Brasil no contexto da expansão portuguesa


2. O projeto jesuítico: aldeamentos e catequese


3. O papel das aldeias no processo de formação da sociedade colonial


4. A atuação do clero secular no período jesuítico


 Sessão 2 – Sob a ótica da Civilização


1. O projeto pombalino: civilizar os índios


2. A transformação das aldeias em vilas e das missões em paróquias


3. A atuação do clero secular nas paróquias indígenas


4. Os jesuítas após a expulsão: trajetórias

 

Bibliografia:


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