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O quarto centenário da Segunda Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil, confiada ao Licenciado Marcos Teixeira, em 1618, oferece o ensejo para um balanço crítico da historiografia brasileira e estrangeira acerca da Inquisição Portuguesa ou baseada em fontes produzidas pelo Santo Ofício. A começar pela própria Visitação de 1618, circunscrita à Bahia, que se prolongou até 1621. A cronologia da Visitação já contém um problema histórico de alta relevância: o fato de ter sido enviada à sede do Governo Geral em um momento crítico da União Ibérica, tempo em que as Províncias Unidas dos Países Baixos se afirmavam, aos olhos da Europa, como a grande desafiadora da poderosa Espanha dos Habsburgos. Já a Primeira Visitação enviada às capitanias do Norte, entre 1591 e 1595, fora decisão de uma Inquisição Portuguesa inscrita na monarquia filipina, sendo o inquisidor-geral de então, Cardeal Arquiduque Alberto de Áustria, homem que ocupava o cargo de Vice-rei do Portugal. Na Segunda Visitação, o perigo de conquista flamenga parecia iminente, e a conexão entre o Santo Ofício e o governo colonial era bastante forte. Há correspondência entre o Conselho Geral do Santo ofício e o governo da Bahia que confirma tais receios desde o início dos seiscentos. O núcleo do problema residia na forte presença de cristãos-novos no litoral açucareiro do Brasil, vários deles mercadores de grosso trato envolvidos com judeus portugueses que haviam apostasiado em Amsterdã e ali residiam. Por outro lado, a Visitação de 1618 abre espaço para uma ampla reflexão sobre o papel das visitações do Santo Ofício ao longo do período colonial, em particular sobre as relações entre Coroa, Igreja e Inquisição na governação do Brasil. É um bom caminho para se valorizar, na justa medida, o peso da máquina eclesiástica nas políticas da monarquia em várias jurisdições governativas. Por fim, o estudo das fontes relacionadas às Visitações ou à atuação do Santo Ofício, de maneira geral, constitui corpus documental privilegiado, nos últimos trinta anos, para a renovação temática e teórico-metodológica dos estudos sobre o Brasil Colonial, em conexão com a história europeia, asiática e africana.

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