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Os participantes desta Mesa Redonda integram o Grupo de Pesquisa Cultura e Educação na América Portuguesa (criado em 2010), e têm realizado investigações que buscam explorar vários elementos que permitam uma melhor compreensão da sociedade luso-brasileira no contexto da Ilustração. Tais investigações abordam (i) a formação de indivíduos que ocupam cargos na administração, (ii) a produção e circulação de saberes no âmbito da cultura escrita e (iii) as instituições e as práticas educacionais desse período em que ocorreram diversas reformas no ensino. Assim, para o período considerado (segunda metade do século XVIII e décadas iniciais do século XIX), é possível identificar a existência de um processo que busca a especialização dos indivíduos a serviço da Coroa portuguesa, instruindo-os na melhor forma de administrar os interesses do Estado e da res publica. Também encontramos referências explícitas à posse de conhecimentos específicos que apontam para a formação universitária desses sujeitos, como foi o caso dos diversos viajantes, formados em Coimbra, que percorreram os domínios portugueses. A partir destas considerações, pretende-se discutir como o termo letrado pode ser tomado como um conceito que permite identificar a pertença dos indivíduos a uma “cultura escrita” da sociedade luso-brasileira setecentista. Em certa medida, estamos trabalhando com a consideração de que um conceito permite “pensar a partir dele a realidade histórica”; ou seja, à medida que os conceitos “são resultado de um processo de teorização”, eles exigem a realização de um trabalho empírico que irá possibilitar identificar como tais termos são utilizados em determinados contextos. Assim, por exemplo, ao também tratarmos utilidade como um conceito, o trabalho com as fontes permitirá verificar o quanto agentes da palavra escrita compartilharam sentidos comuns a esse termo, utilizando-o como definidor de discursos e de práticas culturais. Nesse sentido, pretendemos discutir como diversos agentes utilizaram alguns termos (letrado, utilidade e educação) em seus textos, levando em conta o contexto, a função e a recepção desses mesmos textos. Paralelamente a esta discussão, também nos interessa avançar para o estudo das concepções educativas do período, por meio da análise de suas ocorrências, sentidos e significados presentes em fontes documentais produzidas em diferentes instâncias. Tal abordagem permite identificar um discurso teórico sobre a educação (uma circulação de saberes), especialmente gerado no processo de reformas, mas que no espaço colonial, embora marcado pela cultura portuguesa, apresentou outros componentes. Eram patentes as expectativas em relação aos efeitos das transformações sociais e políticas do período; e, nesse sentido, as reformas educacionais estiveram diretamente relacionadas ao desejo de modificar a mentalidade de setores da sociedade portuguesa. Quer dizer, “não se tratava apenas de controlar, funcionalmente, a escola, mas de infundir, por meio de um projecto coerente de educação nacional, a ideia de que a instrução era inseparável do bem comum e da felicidade pública”. E é nesse sentido que se verifica com maior nitidez a busca de adequar a educação portuguesa “às exigências secularizadoras e regalistas do Estado”, conformando-a às “orientações dominantes, do ponto de vista filosófico, pedagógico e científico, do século das Luzes”. Portanto, como se depreende do exposto acima, o objetivo desta Mesa Redonda é o de realizar uma discussão que permita avançar, empírica e metodologicamente, com o estudo de temas que possibilitam abordar a presença da Ilustração em Portugal e no Brasil e de suas relações com a cultura, com as instituições e com as práticas políticas, administrativas, econômicas, sociais e educacionais do período em foco.

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