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Da Bahia a Goa, os espaços coloniais que integravam o Império Português não foram meros receptores de teorias formuladas aprioristicamente, mas sim lugares em que novas experiências ofereceram contribuições fundamentais para o repertório intelectual forjado na primeira Época Moderna. A incorporação das regiões coloniais à ordem civil e religiosa dos Estados modernos europeus revelou-se fundamental para agregar novos significados aos debates em torno do governo dos povos, da guerra justa e do bem comum, tríade conceitual extraída dos tratados sobre Razão de Estado e então amplamente utilizada para indicar a circulação de saberes e práticas relativas à governança de terras e gentes, à organização da economia e às diversas e graduais modalidades de acomodação, disciplinarização e exclusão de dissidentes político-religiosos, no contexto de formação das sociedades coloniais. Esta mesa pretende examinar, de modo articulado, projetos e experiências a respeito de: (1) o governo dos povos, entendido como um conjunto de práticas e normativas que ordenava politicamente o territórios e suas gentes, desde a manutenção de hierarquias administrativas e de serviço, ao disciplinamento moral; (2) o bem comum, referido a uma dimensão pública - enquanto capacidade de o Estado representar o interesse coletivo, como no caso do "bom governo" dos ameríndios -, e referido a uma dimensão privada - mediante as normativas morais pertinentes à "economia cristã" do governo dos escravos, por exemplo; (3) a guerra justa, debatida quanto às razões da guerra - a respeito dos princípios éticos e jurídicos que orientavam os processos de disciplina social e cristianização em um império multiétnico e multicultural -, mas também quanto à guerra religionis causa, conduzida por confessores e inquisidores nas disputas acerca do controle do dissenso e das minorias consideradas “hostis” e/ou "impuras de sangue".

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